domingo, março 16, 2003

É PRÓ QUE ESTAMOS...
Por coincidência ou não, recebo um sentimental hate mail com pérolas como a que se segue: "Sabe, em França, contrariamente a outros paises e ao seu pensamento, recebem-se emigrantes de todo o mundo sem se saber a cor politica e a raça." E agora? Escondo-me em casa de M. Le Pen. conhecido receptor de emigrantes? Ou da esquerda francesa, que demonizou o povo - que proclama amar - eleitor da extrema-direita? Ou mesmo dos trotskystas, que diziam serem Xiraque e Le Pénis a mesma merda? Ou no Ministério da Cultura, onde o cinema americano é a concretização do Mal? A França, de tão tolerante, deixa-me sem palavras.
Nem de propósito, o poste do Blog de Esquerda é um sinal para se perceber que não é o racismo e a xenofobia que são mal vistos e conceitos adversos. É o objecto do ódio que torna a ideia politicamente correcta ou incorrecta. Se for de pele escura e países pobres, é feio ser-se contra eles. Se for lourinho e vier de um país mais rico e mais desenvolvido, é de bom tom ter-se preconceitos e achar-se que o nosso país vive bem sem eles. Sem “invasões”. Só não se pode ser racista e xenófobo contra pretos e árabes. Contra espanhóis, judeus e americanos, pode.
Não me espanta que o discurso xenófobo (radical ou não) só seja considerado fascista se o seu autor não tiver vergonha de se declarar nacionalista e o seu alvo forem os estrangeiros pobres. A xenofobia anti-americana e anti-semita da esquerda pode não ser fascista. Mas é tão má como a outra. É, além do óbvio paternalismo, um lobo vestido de cordeiro.
Confesso, considero-me nacionalista. Porque amo este país o suficiente para achar que ele não consegue ser aquilo que um dia Vieira sonhou sem ajuda de mais ninguém. É bonito reconhecer que precisamos de ajuda. E Portugal precisa de toda a ajuda de toda a gente com boa vontade de construir aqui um sítio melhor para viver. Tanto me faz que tenham nascido na Ucrânia, em Cabo Verde, no Brasil, em Israel ou no raio que os parta.
Na realidade, são os que nasceram aqui e nunca conheceram mais nada que mais temo.
STATLER, visivelmente agastado