quinta-feira, maio 15, 2003

HABERMAS VS. HEISENBERG
Depois das boas-vindas, e apesar da minha particular admiração por Pacheco Pereira, não voltámos a citar o Abrupto por acharmos que os nossos leitores também por lá passam. Cito-o aqui porque hoje um dos posts termina com uma questão que também me aflige.
«Agora saber porque razão é que as pessoas entendem que a astrologia é uma "ciência", isso tem mais a ver com a escola e com o papel ausente da ciência num país dominado pelas humanidades como condição de cultura. Mas isso é toda uma outra discussão.»
Como licenciado, doutorando e assistente das Ciências Sociais, partilho da preocupação. Nas universidades portuguesas lá estão os sociólogos (em formação ou já de canudo entregue) a pensar que as "ciências duras" não têm mais que uma função utilitária, que criticam e desprezam, roçando a raiva frankfurtiana à "tecnocracia", por razões a que poderei voltar. Encontram-se muitos alunos de Química ou de uma qualquer engenharia, por exemplo, para quem um livro com mais de 100 páginas sem nenhum esquema gráfico ou utilidade científica é uma absoluta perda de tempo.
Afinal JPP exagera, porque existe uma relação de reciprocidade? Errado. Os primeiros acham-se sinceramente mais "cultos" e mais "críticos" que os segundos. E estes, juro-vos, apesar do discurso típico acerca das facilidades que ronda a aprendizagem das Ciências Sociais e das Letras, têm pena de não ter tanta "cultura geral". Bem sei que vivemos numa era de especialização, mas assim é um exagero. A cultura científica é, infelizmente entre nós, absolutamente desprezada. Nos países civilizados há físicos, matemáticos ou biólogos que são, no sentido restrito, "intelectuais". Por cá, a palavra está reservada às Humanidades - principalmente aos pós-estruturalistas desconstrutivistas. Obviamente, a desgraça é nossa.
STATLER