domingo, junho 22, 2003

BLOGOSFERA
«Este poste é sério. Pedimos desculpa pela interrupção, a bardinice segue dentro de momentos II»
O desenvolvimento da Internet veio acrescentar novos dados ao sistema mediático. Para além de criar um novo espaço público, a Internet “queimou” dois obstáculos do jornalismo: o espaço e o tempo. Com o aparecimento dos blogues foi dado mais um passo no sentido da democratizar o acesso aos media, graças à simplificação do processo de produção de opinião. O outrora restrito círculo de opinion makers cresceu e multiplicou-se, para desconforto de alguns. O artigo de Pedro Rolo Duarte, no DNA de sábado, é um exemplo do incómodo que os blogues provocam em algumas chefias de jornais. O facto dos jornalistas se tornarem editores dos seus próprios trabalhos e, consequentemente, escaparem ao controlo exercido na redacção (Breed, 1955), fez estalar o verniz de gente como Pedro Rolo Duarte, que chega ao extremo de chamar vaidosos, presunçosos e cobardes aos jornalistas que mantêm blogues. A posição de PRD é claramente exagerada, sobretudo quando falamos de uma profissão que, como ele próprio refere, luta diariamente contra o espaço e o tempo. A vitória sobre estas duas barreiras em nada desmerece o trabalho dos bloggers já que, ainda assim, se mantém a etapa da escolha, mas aqui assume contornos mais democráticos: quem escolhe é o leitor, não o editor!

Um outro poder
Num artigo publicado na Edinburg Review, em 1855, a imprensa é descrita como «o instrumento por meio do qual a inteligência agregada da nação os critica e controla a todos. É na verdade o “Quarto Poder” do Reino». Hoje, mais do que nunca, os media funcionam como “quarto poder” ou, se quiserem, um contra-poder. Apesar desta expressão ser muitas vezes rejeitada pelos próprios jornalistas, quem não se lembra do director de uma televisão portuguesa que disse ter poder suficiente para eleger o Presidente da República?
Se analisarmos a blogosfera portuguesa, rapidamente se percebe que muitos blogues se antecipam aos media tradicionais e, sobretudo, criticam duramente esses mesmos media. Nesse sentido, e salvaguardadas as devidas proporções, a blogosfera está a funcionar como um quinto poder, uma força opinativa que se debruça sobre os assuntos do dia-a-dia e que, para além disso, põe em causa o próprio funcionamento dos media tradicionais. Por isso não é de estranhar que, de tempos em tempos, surjam ataques à blogosfera e que, quase sempre, eles tenham origem nas chefias dos jornais. Por aí não virá nenhum mal ao mundo, antes pelo contrário. A polémica e a controvérsia são dois dos ingredientes mais importantes da blogosfera, porém, quando a discussão entre blogues acontece, as opiniões são fundamentadas, porque as disputas dão-se de igual para igual e em tempo real. Coisa que não acontece nos media tradicionais.
WALDORF