quarta-feira, julho 09, 2003

INTERGENITÁLIA
Este fim-de-semana ausente pude meditar sobre a frase da parada gay que já havia referido há uma semana e meia aqui nos Marretas: "No que toca aos genitais, somos ultra-liberais".
O que se entende por ultra-liberalismo genital? Consultando os manuais de Filosofia Política que se amontoam nas estantes, verifica-se que no liberalismo clássico os autores consideravam ser papel do Estado – uma união livre de sujeitos – facilitar o acesso dos indivíduos aos seus objectivos, sem qualquer outra forma de interferência. A diminuição progressiva do tamanho da roupa interior tem sido um claro sinal da predominância destas ideias liberais clássicas. Uma outra discussão do liberalismo tem-se centrado na Teoria da Escolha Racional. Como fazer com que os indivíduos contribuam para o bem comum, se não for do seu interesse privado fazê-lo? Basicamente, como é que se impede alguém de escolher a masturbação em detrimento do sexo a dois (ou mais) como forma de convívio? Há ainda, no ultra-liberalismo, uma componente de darwinismo social que me espanta encontrar nos grupos LGBT (Lesbian, Gay, Bisexual & Transgender): a sobrevivência do mais apto. Numa aproximação à Escola de Chicago, uma teoria ultra-liberal dos genitais defenderia que os indivíduos actuam no mercado libidinoso em busca da maximização dos seus próprios ganhos. Aqueles que tenham melhores genitais (considerando as variáveis tamanho, uso, apresentação e utilidade) serão os mais beneficiados na esfera sexual.
Pensaria encontrar nestes movimentos por uma sexualidade diferente um apelo a algum socialismo, ou no mínimo, uma viragem à social-democracia genital. Seria de esperar ouvir defender um apoio do Estado às minorias genitais – literalmente, os de tamanho menor – ou mesmo o estabelecimento de quotas para membros de tamanho alternativo, utilizando o jargão politicamente correcto. E no limite, seria natural encontrar um forte desejo de uma economia genital planificada, segundo os princípios marxistas-leninistas “De cada um de acordo com as suas capacidades, a cada um de acordo com as suas necessidades” e “A genitália a quem a trabalha”. Em homens celibatários, um membro igual ao do John Holmes seria um claro desperdício de matéria-prima e uma injustiça social na hora de gerar mais-valias.
Continuaremos a reflexão em momento oportuno.
STATLER