quinta-feira, julho 31, 2003

MÚSICA CLÁSSICA: BROA DE MEL
Várias pessoas, incluindo leitores dos Marretas, têm vindo a confundir o par Armando e Valentina com o duo Broa de Mel. É preciso que o país saiba que estamos a falar de quatro pessoas diferentes. Urge esclarecer o público português e de uma vez por todas desmentir esta obnubilação cultural.
Os Broa de Mel contribuíram para a construção do imaginário popular ao interpretar o refrão "Passear contigo, amar e ser feliz", canção com versos imbuídos de desejo sexual explícito, temática que perpassa parte da sua obra, como veremos de seguida.
Os Broa de Mel sofreram por causa desse arrojo, é preciso dizê-lo, duas grandes injustiças, ao serem vergonhosamente roubados nas edições do Festival da Canção em 1982 e 1983. Primeiro com o clássico “Banha da Cobra, Estica e Não Dobra”, uma homenagem ao nobre trabalho do vendedor ambulante e à sua Ford Transit, obrigatória por lei para o exercício da profissão. No ano seguinte, a ida a concurso com a destemida “No Calor da Noite” (que deu origem anos mais tarde a um filme com o Bruce Willis em cenas de sexo escaldante numa piscina) foi espezinhada por um júri pudico. Versos como “Meu fogo tão quente, meu mastro sem fim” ou “Roupa ao abandono” são exemplos da insensatez erótica de Luís Contumélias, o autor da letra. Se um fogo quente ainda podia ser aceite nos círculos mais intelectuais, a verdade é que era ainda demasiado cedo para a sociedade portuguesa aceitar um “mastro sem fim”, principalmente com “roupas ao abandono”. Ao contrário da parelha Armando e Valentina, vendida à mais miserável lamechice das baladas, os Broa de Mel foram uns visionários mal compreendidos naqueles tempos virginais do Bloco Central.
STATLER