sábado, agosto 23, 2003

INSÔNIA
A casa estala de noite. São as coisas se assentando. De dia as coisas ficam em suspenso, assustadas com a gente. Há um espelho no corredor que já se viu mil vezes em mil pedaços. (...) De noite as coisas suspiram aliviadas. Isso que você ouve quando acorda no meio da noite é o silêncio que as coisas trocam, como um código. Nada a ver com você ou a sua espécie. Todo o homem que sai da sua cama e caminha no escuro é um intruso em sua casa e merece a topada. (...) De noite a sua casa não é sua. E range como um navio. (...)

Luís Fernando Veríssimo, A Mulher do Silva