segunda-feira, setembro 01, 2003

DE QUE SEXO GOSTAS MAIS?
Insónias. O regresso aos exames e à preparação das aulas do semestre motivou-me menos que um telefilme da TVI sobre uma adolescente que se apaixona por uma amiga e o resto que se segue. Desde a rejeição inicial da própria rapariga, ao amigo gay assumido e à professora lésbica "não contes a ninguém", os clichés estavam lá todos. Houve tempo para a mãe da rapariga se arrepender de tentar "virar" a filha e passar a frequentar um grupo de apoio de pais e amigos de gays e lésbicas. (Isto é mesmo a sério, não estou a inventar nada.)
Moralista até não poder mais, a mensagem inicial "aceita as pessoas como elas são" ainda é suportável. Mas o pior estava guardado para o fim. A mãe a dizer à filha que estava a aceitar as opções dela a pouco e pouco e a grande ingrata a responder "Enquanto não estiveres preparada para o assumir em público, não interessa nada."
E aqui voltamos à conversa de sempre. Por que razão a homossexualidade só vale se for pública? Por ser uma sexualidade diferente? Também a dos swingers. E a dos virgens depois dos 20 anos, já agora. E não andam aí em manifestações e a gritar em voz alta do que gostam (ou não).
Finalmente, só na cabeça dos realizadores e argumentistas politicamente correctos americanos pode não haver sequer uma pequena hesitação em imaginar uma personagem de 15 anos, uma idade em que todos vivem as primeiras dúvidas sobre a sexualidade, completamente convicta da sua homossexualidade, mesmo após uma única experiência com outra rapariga.
Quem acha que este é o caminho para a "libertação" dos preconceitos engana-se. É pela igualdade e não pela diferença que os homossexuais (se é que isso existe como categoria sociológica) diminuirão o estigma que sobre si recai. As escolhas sexuais não fazem de ninguém diferente de ninguém. Deviam ser tão naturais como preferir ganga ao tweed. Não é a fazer paradas e filmes destes que conseguem isso.
STATLER