quarta-feira, outubro 01, 2003

MEDITAÇÃO SOBRE AS PRAXES - PART FOUR (A TRADIÇÃO)
Por "tradição" entendem-se os argumentos que sustentam a praxe com base numa imaginária "herança cultural" ou no mais trivial argumento que "sempre foi assim, sempre assim será". Falso. Nunca houve em Lisboa ou no Porto nada que se lhe assemelhasse, e em Coimbra a praxe estava esquecida desde o final dos anos 60, vista como um anacronismo peleolítico e identificada com as seitas mais retrógradas e fascistas dentro da Universidade. Do mesmo modo, justificar a praxe pela "tradição" nas Universidades da Beira Interior, de Évora, do Algarve ou de Trás-os-Montes só pode ser sintoma de paralisia cerebral. E quem diz Universidades, diz Politécnicos, diz secundário, diz básico, que a grunhice praxista não é exclusiva do ensino superior, e já há putos do 5º ano com medo de ir para a escola com medo dos "grandes"...
Pode objectar-se que as tradições se inventam. Sim senhor. O "kilt" dos escoceses é paradigmático: foi inventado no século XVIII, quase XIX, e a gente vê o Mel Gibson no Braveheart ou o Christopher Lambert n’Os Imortais (uns séculos antes, portanto) a passearem-se de saias aos quadradinhos pelas highlands. A criação de tradições até se pode revelar uma coisa muito útil: por exemplo, desde 1974 que tentamos criar uma tradição democrática (embora os resultados, até ao momento, sejam discutíveis). Seria óptimo se se inventasse uma tradição de exigência, transversal a toda a nossa sociedade (podia ser copiada dos anglo-saxónicos: eles não nos iam processar por plágio). Assim, este tipo de argumento é apenas um meio (muito fraquito, diga-se) de evitar a discussão da utilidade e legitimação das praxes.
(Esta porra ainda não acabou... dá para mais um fascículo)
STATLER & ANIMAL (frente facho-canhota contra as praxes)