sexta-feira, novembro 21, 2003

SEMI-RETRACTAÇÃO
Estive a assistir à entrevista da Judite de Sousa à senhora magistrada Dulce Rocha. Contra a minha expectativa, a senhora até me pareceu de grande equilíbrio, sobriedade e honestidade naquilo que ia dizendo, sobre abusos sexuais, situações aberrantes de miséria moral, sobre o muito que há a aprender para detectar, nos comportamentos e silêncios dos putos, a presença de sombras e terror nas suas existências. Já estava a preparar mentalmente um poste para me retractar do que aqui escrevi (ESTA GENTE É DOENTE), quando a senhora, já na recta final, estragou o efeito todo com a pergunta da Judite sobre "bater" e "maus tratos físicos" (sem distinção de qualidade ou quantidade), e a senhora confirmou aquilo que ontem se noticiava, sem fazer, igualmente, qualquer ressalva. Pois aqui, caros amigos e inimigos, não posso estar de acordo. Até podem apresentar as tais teses "de especialistas" que vêm com o relambório do castigo físico ser traumático e desestruturante da personalidade, que não vou nessa. Se não se impõem limites aos putos com a ideia que estão a formar a sua personalidade e que não temos, como pais, a responsabilidade e o dever de lhes inculcar normas de conduta, o que andamos então a fazer?
Odeio generalizações. E meter no mesmo saco um enxerto de porrada com o cinto ou uma nalgada aplicada na hora, torna-se perigoso. O argumento de que essa nalgada é uma violação da integridade do corpo da criança parece-me estúpido.
É que, assumindo essa lógica, se eu for para uma daquelas manifes antiglobalização e me apetecer partir as montras do McDonald’s mais à mão, estou a exercer o meu inalienável direito de expressão; e se vem a polícia e me dá umas bastonadas, então a minha integridade física, a santidade do meu corpo, está a ser violada. Está mal. A polícia não me pode dar uns tabefes, apesar de me estar a portal mal. Ou pode? Ah pode? E eu não posso dar um tabefe ao meu filho, se ele se lembrar de escaqueirar o restaurante porque queria o actionman e saiu-lhe o rato mickey. Ou posso? Ah, não posso?
E, por favor, não me venham falar em estabelecer o diálogo com a criancinha naquele momento. Porque ela não ouve. E a estalada funciona como interruptor de uma manifestação de fúria. Ou então, mostrem-me a polícia de choque a dialogar com os jovens de passa-montanhas. E a dissuadi-los de estragar mais vidros aos senhores.
ANIMAL
(Talvez a senhora até esteja de acordo com esta conversa toda e não se tenha explicado bem. Se for assim, não se explicou bem.)